No local onde a Toledo Energia Renovável está executando a obra da Central Geradora Hidrelétrica (CGH), denominada CGH – Rio São Francisco Verdadeiro, existia outra usina hidrelétrica desde 1956, a Usina Carlos Mathias Becker, cuja atividade encerrou em meados dos anos 1970.
No início da colonização do oeste paranaense as famílias utilizavam lamparinas e lampiões a querosene, óleo queimado ou gordura animal para iluminação doméstica. Eis que, em 1948, a Maripá Colonizadora instalou um gerador movido a diesel para fornecer energia elétrica aos escritórios e residências dos funcionários. Contudo, havia energia apenas das 18h às 22h. O número de geradores foi ampliado, o que permitiu o fornecimento de energia elétrica durante o dia e iluminação pública de duas ou três ruas, ainda somente entre as 18h e 22h.
Apesar das ampliações, ficou evidente que a energia elétrica não sustentável seria deficiente e isto constituiria um entrave para o progresso do Município de Toledo.
Em 1953, o Vereador Ondy Hélio Niederauer, em discurso com a Câmara Municipal, levantava o problema da energia elétrica, grande obstáculo ao desenvolvimento do Município. A partir da gestão do prefeito Ernesto Dall’Oglio, o poder público empregou esforços a fim de obter recursos para a construção de uma usina hidrelétrica no rio São Francisco. A Prefeitura Municipal, com apoio da Maripá Colonizadora, decidiu construir a usina independentemente de recursos estaduais ou federais.
A construção da usina foi iniciada em março de 1955. Localizava-se em área de propriedade de Guerino Viccari. De tecnologia simples, porém, comprovada eficiência. A tubulação foi executada, à época, com madeira, trabalho quase artesanal da família Bombardelli. A construção da usina impeliu a Prefeitura a instalar uma pedreira às margens do rio Toledo, para fornecimento das pedras utilizadas na barragem.
Em 8 de março, em memorável reunião pública da câmara municipal, o Executivo recebeu autorização para contrair empréstimo público interno em um milhão de cruzeiros para a construção da hidrelétrica do rio São Francisco (Lei n°64, de 8 de março de 1955). Presentes à seção, realizada no Clube do Comércio, além das autoridades constituídas, os representantes do comércio, da indústria, da Maripá e outros cidadãos toledanos comprometeram-se em contribuir para a construção da usina, adquirindo títulos do empréstimo público.
Através da Lei n°83, a Usina Hidrelétrica do rio São Francisco passou a chamar-se “Usina Carlos Mathias Becker”, homenagem a um de seus idealizadores que, mesmo enfermo, lutou para conseguir empréstimos destinados à sua construção. A usina foi ligada a 2 de junho de 1956, fato registrado pelo “Diário do Paraná”.
Ainda em 1955 a prefeitura iniciou gestões para a construção da segunda usina hidrelétrica em Novo Sarandi, no rio Guaçu (capacidade de geração de 450 KW), também por empréstimo público. Empréstimo este, foi quase que totalmente subscrito pela Vila de General Rondon, por este motivo o atual Município de Marechal Cândido Rondon se transformou no maior favorecido com a energia produzida em Novo Sarandi, inaugurada em setembro de 1960.
Pouco depois, Willy Barth contraiu empréstimo para a ampliação da usina “Carlos Mathias Becker”, passando a capacidade de geração de 900KW para 1.500KW. Todavia, em 1964 a energia fornecida pelas usinas municipais já era insuficiente para suprir a demanda.
Após a aquisição do Frigorífico Pioneiro pelo Grupo Sadia, elevou-se o consumo, agravando-se o problema. A indústria sozinha utilizava uma turbina de 300KW. Os pequenos industriais, os comerciantes, os clubes de serviços e a população em geral sofreram impactos com a falta de energia, cada vez mais frequente, passaram então à clamar por soluções. Então, a Prefeitura de Toledo contruiu a usina de Novo Sobradinho, inaugurada em 1968 e com capacidade de geração de 250 KW. Contudo, foi insuficiente para atender a demanda.
A energia elétrica estava a mercê do regime de chuvas, isto é, se não chovesse, faltava luz porque a água era insuficiente para movimentar as turbinas; e, se chovesse, a cidade ficava às escuras face à fragilidade da rede de distribuição ao enfrentar ventos e descargas elétricas. Isto causou sérios problemas à indústria, ao comércio, e fatalmente para a população. Para os hospitais o problema era ainda mais dramático, não há como fazer cirurgias e esterelizar instrumentos cirúrgicos às escuras. A seca de 1967 e 1968 agravou ainda mais a insuficiência de energia. À época, Avelino Compagnolo, então prefeito pensava em resolver o problema da energia elétrica no Municipio apenas com a construção de usinas locais.
Em março de 1968 o jornal “A Voz do Oeste” publicou carta do Diretor Presidente da Companhia Paranaense de Energia – COPEL, Pedro Viriato Parigot de Souza, ao Presidente da Associação Comercial e Industrial de Toledo – ACIT, na qual informava que suas tentativas de entendimento com a Prefeitura Municipal para o fornecimento de energia não estavam encontrando receptividade. Também, que a empresa não poderia realizar qualquer fornecimento de energia elétrica, em vista dos débitos da municipalidade para com o tesouro Nacional, relativos ao Imposto Único e ao Empréstimo Compulsório em favor da ELETROBRAS.
O debate pelo jornal se acirrava e os ânimos foram esquentando. Em 31 de julho de 1968 a revolta explodiu. O povo pacifico e ordeiro, mas indignado, foi as ruas de vela em punho e realizou a histórica “Passeata das Velas”, reivindicando energia elétrica suficiente para o Município. Na liderança desse movimento estava a ACIT e grupos politicos contrários ao Prefeito. Cedendo a pressão popular, a prefeitura autorizou a COPEL a incluir Toledo num projeto de financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, para energizar o municipio.
As atividades da usina foram encerradas após duas grandes enchentes que causaram enormes prejuízos, tornando inviável sua reconstrução.
Autora: Camila Allievi
Fonte: Silva, Oscar. Toledo e sua História/ Oscar Silva, Rubens Bragagnollo e Clori Fernandes Maciel. – Toledo: Prefeitura Municipal de Toledo, 1988.